segunda-feira, outubro 10

Das Ciências Exatas Às Ciências Psíquicas

Lançada há 10 anos, Uma Mente Brilhante (A Beautiful Mind) é uma readaptação cinematográfica baseada no livro homônimo de Sylvia Nasar. Dirigida por Ron Howard, conta a história de vida do matemático John Forbes Nash. O filme se difere ao não focar sua atenção apenas no desenvolvimento de uma biografia. Objetiva também exibir uma narrativa complexa e capaz de envolver o público. Tal complexidade nasce ao mostrar como é possível passar de um nível psicológico estável para um patamar em que se obtém o diagnóstico de uma das doenças psíquicas mais dignas de discussão, a esquizofrenia.

Sendo traduzida do grego como "a união entre o corpo e a alma", a esquizofrenia é um transtorno mental que pode ser identificado quando o indivíduo passa a ter alucinações, delírios e alterações de pensamento. Em contrapartida, pacientes esquizofrênicos geralmente possuem capacidade intelectual superior a das outras pessoas.

Em Uma Mente Brilhante, esta característica se faz presente quando John Nash, interpretado por Russell Crowe, obtém destaque no meio acadêmico ao formular um teorema de influência significante para as ciências exatas. No entanto, no decorrer do trama, John Nash passa a apresentar os sintomas negativos da doença.

Enquanto estuda na Universidade, o personagem acredita ter um colega de quarto, no entanto, por observação de seu psquiatra e de sua esposa, descobre que este companheiro nunca existiu. Para John, se torna difícil acreditar que uma pessoa em quem confiou durante anos, na verdade, não existe. Em razão disso,  ingressa em um conflito ainda maior: saber discernir o que é formação apenas de sua imaginação e o que faz parte do mundo real.

A trama não se resume em tratar de uma doença. Além do desespero vivido pelo personagem, que chega a ser internado em razão de seu tratamento, há cenas que apresentam a sua readaptação ao convívio social, o que irá lhe garantir futuras conquistas.

Um longa-metragem premiado no Oscar nas categorias de melhores filme, roteiro adaptativo, diretor e atriz coadjuvante é uma boa opção para ser revista. Trata-se da análise da vida de um homem portador de uma aptidão intelectual admirável e de uma habilidade suscetível, capaz de superar um transtorno para continuar produzindo importantes trabalhos matemáticos.
quinta-feira, setembro 15

Um Doce de Sabor Singular

 
    Voltei a agir da mesma maneira como quando criança. Ganho balas, biscoitos e outras guloseimas. Guardo-os em uma caixa, em meu quarto, e, quando procuro por eles, já não são mais válidos, estão podres. Minha boa intenção em conservá-los, ao contrário de mantê-los disponíveis por mais tempo, acaba por destruí-los. Minhas mãos, que antes os levavam  com carinho até a caixa, agora precisam guardá-los com tristeza no lixo.
     Minha vizinha teve atitude semelhante durante alguns anos. A diferença é que seu esquecimento não foi referente a doces, ou melhor, se referia apenas a um único doce, um doce de pessoa.
     Para aliviar a infância de minha vizinha, que tinha um pai carrasco, vivia próximo dela o seu padrinho, que a fazia sorrir sempre que preciso - e quando não era preciso também. É o modelo de companheiro que Deus nos manda para que seja possível viver com mais entusiasmo. "Entusiasmo", foi essa a palavra-herança que minha colega de bairro recebeu do padrinho.
     Depois de casada e com filhos, ela não encontrou tempo para visitar aquele que por anos a manteve feliz ao lhe ensinar ardor que se deve ter pelas experiências que se presenciam. Para falar a verdade, houve um dia em específico que ela separou para revê-lo. Se estava previsto pelo destino ou não, até hoje ela não sabe. O fato é que, depois de andar por horas na estrada até chegar à casa do padrinho para entregar-lhe um abraço e um bolo preparado com carinho, ela descobriu que há algum tempo ele já não morava mais naquele local.
     Se com tristeza um dia carreguei meus doces ao lixo, com amargura chorou minha vizinha por não ter levado o seu padrinho, o seu doce preferido, ao lugar onde está escrito "jaz aqui um homem que deixou belas memórias por onde passou e permanece vivo no coração daqueles que tiveram a satisfação de conhecê-lo."
quarta-feira, junho 1

O Vermelho dos Teus Lábios

     Luz acesa. Um belo espelho à sua frente. Sabonete Mahogany, perfume dado pelo avô, antitranspirantes de diferentes colônias, gel para cabelos e alguns outros utensílios, todos enfileirados como expectadores da cena. Ela passava a lâmina alisadora por cada fio de cabelo. A fila de cosméticos a incomodava, pois diminuía seu campo de visão. Hora inclinava-se para um lado, tentando enxergar-se melhor, hora afastava alguns deles para longe de si. Um vidro de perfume se perdeu em um desses movimentos, escorregou até o chão. Cacos de vidro espalhados, aroma oriental no ar.
     Base, pó de arroz, blush, lápis de olho. Rímel. Um rímel que modificava totalmente aquele rosto. Não eram apenas os olhos que tomavam uma expressão mais vantajosa, era também aquele corpo que se sentia potente, como se um poder lhe fosse entregue através daquela consistente tinta preta. Vez do batom. Havia uma necessaire lotada deles. Os olhos, que já estavam prontos, analisaram cada cor que ansiava deixar o roll on para fazer parte daquele conjunto que tomaria a atenção de todos aqueles para quem se exibisse. Um tom alaranjado, outro rosa claro, outro rosa pink... O único batom a ser tocado foi o vermelho, que logo fez daqueles lábios mais do que um molde de coração, era dali que sairiam as conquistas da noite. 
     Com três voltas na chave, ela abriu a porta. Dentro do apartamento, silêncio; do lado de fora, apenas o elegante "toc,toc" de seus saltos. Quase como uma modelo, desfilava pela rua sem se incomodar com os olhares que a acompanhavam. Seu objetivo, naquela noite em especial, era se render a apenas um rapaz. Mas o que um homem precisava para ter aquela mulher aos seus pés?
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     À mesa, estavam seis pessoas. O local tinha luz baixa, o que deixava todos à vontade. Eram a dama e cinco rapazes os que rodeavam aquela mesa. Já há mais de duas horas oscilavam entre gargalhadas, histórias picantes e goles de diferentes bebidas. Todos fixavam seus desejos sobre ela.
    Os homens conversavam então sobre uma nova mulher que havia chegado à cidade. Perdida na conversa, a dama ficou cabisbaixa e reparou em um par de sapatos europeus que se aproximava. Elevou um pouco o olhar, fitou os olhos sobre a gravata que dançava sobre a camisa despojada, paralisou. Ele se aproximou. Percebeu que ela havia consentido e tomou sua mão. Seus companheiros não repararam, continuaram dialogando sozinhos. Ela não sabia ao certo porque havia levantado, apenas deu margem à conquista momentânea que aquele homem a fez sentir.
     Se afastaram e, sem que fosse preciso exprimir nenhuma palavra, sentaram em um sofá, que ficava ao fundo da pub. Ele chegou o mais perto possível e, com a ponta dos dedos, sentiu os lábios vermelhos e carnudos da dama.
    -São desses mesmos que preciso, exitou com segurança.
     Era exatamente desta frase que ela necessitava para se render por inteira, preparava-se para ter a noite mais marcante de seus dias.
     Com porte, ele  se colocou em pé atrás dela e puxou suas mãos. Ela, segura, fechou os olhos e manteve os braços inclinados para trás.
     Ela percebia que ele tirava algo do bolso. Ouviu um som que se assemelhava ao de bijuterias quando se tocam. Abriu um sorriso, sugeriu para si mesma que jóias preciosas estariam sobre seu pulso em alguns segundos.
     Sentiu o gelado sobre seus braços. O coração pulsou mais forte.Surpreendeu-se ao ver que o gelado do metal não tocava apenas o pulso do braço esquerdo, mas também o do direito. Era mesmo uma noite surpreendente, seria dobramente presenteada.
Permaneceu com os olhos fechados enquanto ouvia as palavras daquele que recém lhe presenteara.
     -Não foi nada difícil chegar até aqui. De longe, enxerguei teu batom vermelho e desde já tive a certeza de que eras tu. Ao me aproximar, vi a mesma face que reluziu durante toda a semana sobre minha mesa através de uma foto. Observei teus traços durante longas horas, a imagem ficou guardada em minha mente. Foi com esse mesmo batom que, há um mês, tu beijastes meu irmão naquele quarto de pensão, até matá-lo daquela maneira que tu bem sabes. Quando o encontrei, o corpo dele mesclava entre o vermelho de sangue e o vermelho assassino de tua boca. Desde então, prometi a mim mesmo que te encontraria. Estas presa.
     Totalmente desnorteada, ela mudou a imagem do semblante. Procurou fugir, mas já não conseguia mover os braços, a algema tinha sido devidamente apertada. Seu sangue passou a pulsar mais forte, ela estava mesmo rendida, mas já não era de paixão.
     Como havia desejado antes de sair de casa, conheceu um novo lugar. 
     Teve a noite mais inesquecível de sua vida.
sexta-feira, maio 20

Hora de voltar.

   Há tempos em que nossos mais deslumbrantes costumes são esquecidos. A dona de casa apaixonada pela cozinha decide deixar todos os moradores famintos. O menino adolescente não toca mais no boné, separa então meia hora de seu dia para se sentir um Elvis Presley, ele quer uma onda de gel perfeita em seu cabelo. O funcionário público que, ao chegar do trabalho sempre ligava o rádio na emissora de sua preferência, se esquece por um momento do prazer de ouvir música.
  Esquecer-se? Bom, na verdade eles não esquecem. Nós não esquecemos. Perdoem-me, mas apenas ignoramos.

  Ignoramos porque nos sentimos compromissados para com tudo a que nos apegamos. É como aquele casaco que, mesmo que você não use, prefere deixar quieto no guarda-roupa. Você toma essa atitude há anos, mas no último inverno, com sarcástica indiferença de sua parte, o belo agasalho foi parar no saco de roupas separadas para doação. Ele é jogado com rapidez na sacola para que não exista tempo de arrependimento, você prefere fazer de conta que tudo está correndo como devido. No outro dia, seu primeiro compromisso é correr ao abrigo para finalmente se desfazer daquela peça. Pronto, já pode voltar à rotina e sentir-se sossegado.
    Os dias passam, a tranquilidade torna-se sua melhor companheira. Andam os meses, seus planos têm surtido efeito, sua vida prospera, as conquistas ocorrem de forma natural.
    Por ordem de um ser superior, certo dia a dona de casa foi visitar uma amiga com quem não se encontrava há 5meses. Sim, aquela mesma dona de casa que foi citada no início desse emaranhado de palavras, ela mesma. Ela estava acompanhada do esposo, que levou uma lembrança de sua última viagem ao casal de amigos. Todos reunidos, noite de sexta-feira, alguns goles de whisky descem pelas gargantas, os casais trocam piadas entre si. O papo já estava quase em dia, quando chega o momento da janta. Os talheres e copos são colocados à mesa. Chega também uma tijela de salada e outra de lasanha, uma lasanha de quatro queijos com molho de champignon . A nossa conhecida dona de casa depara-se com a cena. Ela observa a tijela de lasanha, permanece imóvel por alguns segundos. Olhos nos quadros, olhos na tijela; olhos o teto, olhos na tijela. Lasanha de quatro queijos com champignom era sua especialidade enquanto ainda cozinhava. Ela ingressa em um conflito, apenas seu esposo repara naquele transtorno. Os dois preferem ignorar a situação. É feita a janta, novas histórias são contadas, enquanto risadas dão tempero à madrugada.
   Ocorre a despedida, o casal chega em casa. Ao invés de conversarem sobre a noite como de costume, os dois permanecem quietos. Deitam-se na cama, o tempo corre.
   -Aquela lasa...nha. Tenta dizer o marido, que é iterrompido pela mulher.
   Eles dormem.
   Meio-dia, hora do almoço.
   Há um pote de cogumelos frescos sobre a mesa da cozinha.
   O forno é aberto. Cheiro de queijo no ar.
quarta-feira, fevereiro 23

Justin Bieber em Três Dimensões

   Diferente do que muitos imaginam, a fama de Bieber não nasceu no decorrer de um ano, ela já existia desde sua infância, apenas não era conhedida pelo mundo todo. Contráditório, não? Uma fama sobre que o mundo não tem indícios pode, ainda assim, ser considerada como "fama"? No caso de Justin Bieber, sim.
   Para a família do canadense, desde seus primeiros anos ele já era um astro. A mãe, que se divorciou logo depois do nascimento do filho, passou a dedicar toda sua vida a ele. Com dois anos de idade, JB já arranhava as cordas de um violão. Por outro lado, Bieber não se limitou apenas ao conjunto de seis cordas acústicas, ele arrasava também com a bateria ( que de início, era de plástico). Os avós maternos, que sempre participaram de sua educação ao lado da mãe, vibravam com tamanho talento e viram-o crescer ao lado do que mais tarde se tornaria o alicerce de seu talento - o violão, a bateria,  o teclado, o trompete e, claro, a voz.
   Um garoto orientado por uma família que lhe ensinou a respeitar todas as pessoas e a ser "um bom homem" como diz o avô. Avô esse que era o primeiro a resgatar a câmera para registrar as artimanhas do neto, que saía pela cidade a cantarolar e que só se via contente depois de conquistar a atenção dos que estavam ao seu redor, recebendo, então, as devidas palmas.
   Em alguns anos, essas palmas se estenderam das ruas da cidade até as maiores casas de show do mundo. Aceitou o desafio de se apresentar no Madison Square Garden, onde geralmente é difícil que todos os lugares sejam preenchidos. Em apenas 22minutos, todos os ingressos já haviam sido vendidos.
   E para mostrar como foi e tem sido a carreira deste fenômeno mundial, na próxima sexta-feira, uma estréia nacional será o filme "Justin Bieber: Never say never. Através da produção, é possível saber de que forma surgiu a fama que iniciou por um canal do youtube e como suas músicas e seu estilo se tornaram a sensação dos adolescentes.

    Mais do que isso, o astro mostra a perserverança necessária para a realização de um sonho, os benefícios e também os problemas que surgem ao deixar uma vida comum para iniciar uma jornada repleta de shows e de assédio.
   É uma oportunidade não só para os fãs se emocionarem, mas para que os mais distantes da carreira do ídolo POP possam ser tocados por seu talento. Certamente, todos aqueles que assistirem sairão da sessão com a mesma sensação de quem foi a um show: quer-se dançar, quer-se cantar.
quarta-feira, fevereiro 16

Em meio a oscilações...

Em meio a oscilações...
Perdeu-se a sintonia, restou-me o ruído.


Nem tudo poderá ser transmitido atráves das palavras que me virão à memória, todavia buscarei recuperar aquelas que, por algum momento, já passaram por minha mente.
Não quero mais estar contigo, sair ao teu lado.
Tenho medo de tornar-me um monstro.
Já não sinto paz desde que contigo estou.
Sinto que engano a mim mesma.
Por ser novidade, não soube como lidar. Acreditei ser mais um caminho existente, e não um caminho completamente contrário ao meu.
Somos diferentes, totalmente diferentes. Não consigo e já não quero mais me adaptar ao que tu és. Ao contrário disso, quero distância de pessoas que vivem como tu. Pessoas que se preocupam apenas com influências ao ponto de já não mais se entregarem, ao ponto de tratarem pessoas como seus objetos.
Entendi seu jogo. Não só entendi, como ingressei nele. Ingressei e, mesmo sendo novata, obtive vantagens. Virei o jogo, passei para o outro lado do tabuleiro.
Sabe qual é o problema? Não gostei de ocupar este lugar. Diferente do que sentir o gosto da vitória, senti o da derrota. Derrota por estar onde não devia, por precisar de artimanhas que não são as minhas.
Não desejo permanecer neste jogo, embora tenha consciência de que ele passa a ser um vício. Parte da adrenalina já está presente em minhas veias. É ela que ainda me impede de fugir daqui. 
Não nego que ela é deliciosa, mentiria se o fizesse. Foi bom, suficientemente bom para que eu me envolvesse. O mistério sempre é fascinante. Porém, perde seu potencial quando reconhecemos seus segredos, suas magias.
Passei a já não ter a mesma alegria ao te observar. Nem mesmo ao ouvir tua voz.
Surpreendo-me com tamanho desaponto de minha parte, pois imaginei que permaneceria entregue por um tempo mais considerável do que este.
Por maior que seja teu carinho para comigo, por mais que estejas deixando tua verdadeira essência (ou falta de essência) para ter minha presença ao teu lado, já não acredito em suas palavras. Ou melhor, creio nelas, creio com toda minha força. És experiente e sabe orientá-las da melhor forma.
Mas entendes que existe um empecilho? Não creio na imagem que existe por trás delas. São totalmente falsas. São imagens pré-orientadas por ti mesmo conforme surgem teus interesses. Passas a mover tudo com ego de poder, de sedução. Talvez não tenhas culpas, sempre fostes assim. Não te culpo por tamanha bravura e nem mesmo exijo que abras mão dela. Só não espero que evoluas ao meu lado.
Não me interpretes mal, pois não guardo rancores. Vejo que,  como uma das boas experiências anteriores, esta também serviu para crescimento. 
Não sei se te amei. Na verdade, penso que sim. Apenas penso, sabe por quê? Durante este período, me esqueci do que é ter a certeza de um sentimento, foi assim que me fizeste viver. 
O que procuro é a redescoberta do que realmente é verdadeiro. E embora teu mundo confesse que o verdadeiro é utopia, é por ela mesma que eu busco. Isto mesmo, desejo UTOPIA! Tu jamais entenderias, chamar-me-ias louca, iludida. Mas acredite, descobrir o que há por trás do desconhecido é o melhor prazer que se pode ter.
Foi essa a esperança que mantive por muito tempo. Queria ver-te descobrindo este mundo. Sinto muito, não fui capaz. 
Se a utopia que me aguarda simpatizar contigo, talvez ela, algum dia, tragas-te de volta para mim. Desta vez, será possível que me interpretes como devido. E caso esta ocasião não se torne concreta, serei feliz por ver-me sem as algemas desta paixão que ingressei por acaso.


Abraços sinceros.
De quem, contigo, sempre foi sincera.


Laura Marzullo dos Santos
sexta-feira, janeiro 14

Uma necessidade que faz parte do que sou.

   Sinto falta de que saibas mais a meu respeito. Anseio por que reconheças tudo o que guardo em meus pensamentos. Queria que me degustasses, dominasses, entendesses. Tudo isso porque não sei ser contida. Em um relacionamento, ingresso para me entregar. Não me é uma escolha, nem mesmo uma necessidade. É parte de mim.
   Desde que contido aprendi uma nova maneira de viver, acostumei-me a sair de casa todos os dias. Preciso abrir o portão para sentir como está o tempo - esteja ele envolto a uma brisa que embaraça os cabelos ou coberto por um calor estonteante, que produz desejo de se estar na praia. Praia esta que entrelaça brisa e calor em um mesmo momento, dando novo aspecto a ambas as sensações.
   Meu sair pelas ruas é necessário ao menos por uma hora. Ou por alguns minutos. Minha dor nasce por tu não estares comigo quando me perco à procura de caminhos diferentes. Perdão, é uma audácia de minha parte expressar tamanha mentira. Tu estas sempre ao meu lado. Talvez não com teu corpo presente, mas vive em minhas lembranças, pensamentos. Acabo então por te provar mais, mesmo quando não te tenho ao meu lado. E esta foi a grandiosidade que recebi ao te conhecer. Agora sei que não apenas é possível te explorar estando longe, mas também sei que não sou limitada pelas leis físicas que me rodeiam, sou capaz de ir além de cada uma delas.
   Parece ironia dizer que aprendi isto contigo, logo tu que provéns das exatas e que ris quando exponho o quanto me reconheço dentro de um museu, de um livro, de um filme. Na verdade, no fundo me entendes, mas não tens coragem de se declarar como sendo tão verdadeiro. Preferes apenas admirar o que possuo para completar o que conservas escondido em ti.
   Não avalio tamanho receio como medo, mas apenas como obstáculo. Sei que necessitas de uma força suficiente para lhe tirar deste casulo. Por meu modo de ser, enxergo em ti uma pessoa talvez mais semelhante a mim do que eu mesma. Desperdício é que os outros não possam e não consigam decifrar o quanto és maravilhoso.
   Preciso de tempo, de tempo para que venças o obstáculo e finalmente sejas mais transparente com teus planos, sentimentos e desejos. Acabo por me angustiar ao saber o quanto será deslumbrante quando assim conseguires passar todos os teus dias. É através dessa angústia que falho e não consigo te levar mais adiante nesta caminhada. Minha ansiedade acaba por cessar o movimento dos ponteiros do relógio, deixando-os mais lentos do que quando tinham o costume primitivo que me aborrecia.
   Eram oito horas da noite quando saí de casa no dia de hoje. Passou-se uma hora e meia e o horário permaneceu sendo 21h30. Devido a esta trapaça literalmente temporária, já não consigo prosseguir. Outras palavras terão liberdade quando, ao sentir tua voz me trazendo novidades ou tuas mãos aquecendo as minhas, tudo já não seja apenas um de meus pensamentos. Saberás então que teus olhos me são como combustível para que meus sonhos tomem a forma de vida.

Bem-vindos!

Minha foto
Um conjunto de antíteses e uma mente apaixonada, que pulsam juntos em forma de sonhos. Graduanda em Psicologia e ex-estudante de Jornalismo na UFRGS.

Eles aprovam: