segunda-feira, dezembro 16

Virtuosidade 2.1


para a insegurança diante do beijo, calma
para o medo antes do abraço, alma
calma e alma


para a injustiça da mentira, retidão 
para o desconhecimento da fala, educação
retidão e educação


para a criança que fecha os olhos, dança
para o adulto que tampa os ouvidos, esperança
dança e esperança

para o que assalta à mão armada, mão estendida
para o que é assaltado à mão armada, vida
mão estendida e vida

para a dor nascida da angústia, diálogo
para a dor originada da doença, afago
diálogo e afago

para o excesso de lógica, pureza 
para a falta de sentido, natureza
pureza e natureza

para quem receia se entregar e para quem tem medo de sentir;
para quem é pela mentira prejudicado e para quem pela ignorância é envergonhado;
para quem não quer ver e para quem não quer ouvir;
para quem intercepta a segurança no andar e para quem tem o direito roubado;
para quem não pondera se a mente vai parar e para quem não observa se o corpo vai cair;
para quem é extremamente metódico e para quem está sempre emocionado;
amor e amor
sexta-feira, outubro 25

Abrir Asas no Final da Tarde de Domingo


Tinha caneta, mas não encontrei papel
Rasgar a última página do livro que havia em minha bolsa foi, portanto, a solução.

Fugir de casa para desafogar as mágoas é um dos pecados do desespero
E todos já o cometemos, convenhamos.

Não é preciso estética na roupa
Nem conforto na condução
A esperança é o chegar.

Chegar onde haja brisa da natureza e olhares afáveis
Escolher um canto aconchegante, sentar e observar é a ordem de etiqueta do sossego.

Tenho arranhões do meu gato nos braços e nas pernas
Tenho a dor da esperança no peito e, também, a alegria da esperança na mente
Essas análises são frutos do deitar na grama que essa tarde me proporcionou.

Pude sentir o frio da terra.
O macio do gramado.
A ardência das picadas de formigas.

Vi o céu e, antes dele, as grandes folhas de um coqueiro.
Mais abaixo, o tronco da árvore. 
E mais abaixo ainda, rente ao chão, o meu corpo.

Sentindo-o, reconheci a mim mesma.
Sobre pernas, braços e vida pude pensar.

Supus chamar um amigo para conversar e, antes de fazê-lo,
Vi-o caminhando de mãos dadas com a nova namorada aqui no parque
Do mais, falta-me papel para contar.

quarta-feira, junho 19

“O Brasil acordou”, agora precisa andar.



17 de junho de 2013, milhares de brasileiros se reúnem em diversos estados por um propósito em comum. Desta vez, no entanto, o palco do espetáculo não foi um estádio de futebol, mas as ruas das capitais do país. O objetivo não era gritar “gol”, mas levantar a voz em prol da busca por melhorias nos serviços públicos oferecidos nas áreas de saúde, educação, segurança, transporte, entre tantas outras.

Na vida de quem participou deste protesto nacional, uma grande data ficou marcada. Para os participantes mais jovens, fica o orgulho de um dia poder dizer “eu estive lá” para seus filhos, quando eles estudarem como se deu o movimento pelos livros de história daqui a algumas décadas. Para os de meia idade, são reforçados os ensinamentos de justiça, liberdade e luta. Já para aqueles que, mesmo carregados de cabelos brancos, ainda assim saíram às ruas, fica o sentimento de dever cumprido.

A última segunda-feira foi, sem dúvida, um momento para reflexão. Indivíduos, famílias, cidades, veículos de comunicação, governantes e o mundo pararam, buscando entender que objetivo todos os mais de 250 mil manifestantes que estavam na marcha desejavam. Por que estavam ali? Como se reuniram? Quais serão suas próximas ações? Esses e outros questionamentos ficaram no ar. Estão no ar. A maneira como serão respondidos pode ser gloriosa, mas pode, também, se perder e morrer.

Já faz dois dias que o Brasil acordou. Esse despertar torna-se visível quando ligamos a televisão e vemos sociólogos discutindo sobre a diversidade do movimento ou quando logamos no facebook e observamos o país inteiro compartilhando informações sobre as ações dos manifestantes, da polícia e dos jornais durante o protesto. Quem se acorda, porém, precisa levantar e andar. Mas com uma diversidade tão grande de opiniões, como podemos encontrar a melhor solução?

Diferentemente de todas as reivindicações que ocasionalmente ocorrem em nosso país, o intitulado “Movimento Passe Livre” não tem liderança. A representação não está na mão de um, mas de todos. Os governantes, procurando alguém para negociar, não sabem com quem falar e, por isso, acabam por tomar decisões sozinhos. Em Porto Alegre, por exemplo, o prefeito José Fortunati declarou, na manhã de ontem, que será possível reduzir o valor atual da passagem de ônibus em R$ 0,12, passando de R$ 2,85 para R$ 2,73. Para isso, porém, será reduzida a cobrança de impostos, ao invés de se diminuir o superfaturamento empresarial, que é o verdadeiro desejo de quem reivindica.

Manter nossa presença nas ruas é essencial para que construamos a mudança de nosso país, pois assim fazemos da democracia uma prática, comprovando que o poder emana do povo. Mas além de manifestar precisamos ter claro quais são nossos propósitos. Aliadas às nossas exigências, devem também vir as soluções. E encontrá-las é o nosso desafio.

Com um grupo tão diverso de manifestantes, esclarecer todos os nossos anseios se torna uma tarefa quase impossível. Por isso, começar dando exemplo aos nossos governantes pode ser uma boa estratégia. Além de exigir, também devemos ser capazes de traçar propostas. Uma citação do economista Thomas Sowell se torna interessante para refletirmos sobre nossas requisições:

"O fato de muitos políticos de sucesso serem mentirosos não é exclusivamente reflexo da classe política, é também um reflexo do eleitorado. Quando as pessoas querem o impossível, somente os mentirosos podem satisfazê-las."

Dentro do aglomerado de pessoas presentes na manifestação, estão profissionais de diversas áreas, capacitados para exercer inúmeras atividades. E como já diz o ditado popular: “Duas cabeças pensam melhor do que uma”. Por isso, acredito que para que o movimento não perca sua cara de se mostrar apartidário e inovador, e para que também não se perda enquanto procura encontrar sua unidade, devemos nos enganjar, atuando de acordo com nossas especialidades.

Segundo o sociólogo Edgar Morin, o conhecimento não pode ser engavetado. Para ele, quanto mais as múltiplas áreas se comunicarem, mais possíveis se tornam as resoluções de questões. Cada um de nós teve uma vivência única, está limitado a uma gama de informações específicas e faz parte do movimento por motivos diferentes. Indo à rua, estamos mostrando nossa força, cada um da maneira como julga adequada: gritando, levantando cartazes ou, inclusive, quebrando estruturas simbólicas que vemos pela frente.

Não tenho como propósito dar soluções ou formar opinião da população em relação à ação de cada um dos manifestantes. Como unidade de pessoa que sou, tenho minhas próprias posições. Sou contra o vandalismo, por exemplo, mas entendo que não posso julgá-lo. Se todos nos colocarmos nesse lugar de quem compreende o outro, será ainda mais possível reforçar nossa união.

Meu intuito por aqui é, portanto, sugerir que coloquemos o que temos de melhor nesse movimento. Que os administradores ajudem, sugerindo métodos para qualificar a administração pública; que os advogados prestem serviços de esclarecimento em relação às dúvidas que temos na hora de protestar e também na hora de interpretar decisões que estão sendo tomadas no Congresso e que nos afetam diretamente; que os relações públicas nos ajudem a criar eventos que sirvam para confraternização e também para a discussão de novas estratégias e assim por diante.

Se tomarmos o lugar de quem também define, podemos trazer à tona a participação popular nas decisões. Infelizmente, temos poucos representantes eleitos que realmente buscam satisfazer os desejos da população. Hoje os Conselhos Deliberativos e as outras comissões existentes para intermediar a comunicação entre o povo e o Governo são pouco respeitados e ouvidos por aqueles que detêm o poder. Vivemos em um regime que se disfarça de democrático e se aproxima de um totalitarismo.

Felizmente, para renovar a esperança dos cidadãos, provamos com nossos manifestos que estamos cientes deste sistema e que queremos reformulá-lo. A energia que circula hoje em nossas ruas é única, é linda e deve ser preservada. Precisamos mantê-la viva. Precisamos enumerar objetivos em comum e colocar a mão na massa para ajudar a construir o Brasil em que viveremos nos próximos anos.

Convoco a todos para fazer parte dessas discussões. Vamos intervir na rua e fora dela também. Somos brasileiros, temos aptidões e é para a melhora desse país que vamos utilizá-las.
terça-feira, fevereiro 19

Sem Parágrafos, com Minha Vida


Acho agradável estar em uma banheira de hidromassagem, mas não gosto tanto quanto a maior parte das pessoas. Tenho costume de listar em ordem decrescente de tamanho os nomes dos meus filmes preferidos. Gostaria de ter lido mais quando criança e de ter sido menos careta na adolescência. Morro de rir quando pulo em uma cama elástica. Gosto de usar meias masculinas. Amigos são essenciais para minha felicidade. Emocionada, já derramei lágrimas fazendo sexo e ri da situação. Tenho apreciação pela cor verde e, frequentemente, me comparo a um avestruz. Admito ter medo da morte de entes queridos. Prezo pela palavra "superação". Possuo dificuldade para memorizar dados e me sinto triste por isso. Já brigaram comigo porque, ao invés de aproveitar um viagem, quis dormir. Me chamam de judia porque não compro à vista, se não ganho desconto. Estimo muito voltar ao Rio de Janeiro e conferir se ele continua lindo. Tenho grande propensão a amar pessoas que me fazem mudar de opinião. Gosto de filosofar, principalmente à noite, antes de dormir. Não digo que não gosto, quando nunca fiz/experimentei. Tenho curiosidade de conhecer o máximo possível de ceitas, culturas e religiões. Dou importância a valores do "tempo da vovó". Ao mesmo tempo, me proponho sempre a mudar minha forma de pensar, desde que perceba ser positivo. Condicionais, como na última frase, costumo utilizar e, por isso, sou taxada por alguns como chata e, por outros, como racional. Em contraste, sou bastante emotiva. Expresso quando amo, choro quando sofro, elogio quando julgo merecido. Nunca pintei o cabelo. Gosto de altura e desejo saltar de pára-quedas. Ainda não bebi tequila. Por anos, fiquei desapontada por ter parado com as aulas de ballet e hoje fico muito contente com as aulas da dança de salão. Queria mais tempo para experimentar todas as possibilidades, para nascer em outros lugares, para ouvir outras músicas, para obter outros conhecimentos, para beijar outras bocas. Sou apaixonada por pessoas. Adoro saber mais sobre como pensam, quais são seus anseios e mágoas, quais foram suas grandes experiências. Já saltei de uma cachoeira de 15m de altura. Aprendo com os erros dos outros. Sinto bastante sono. Ouço ópera e também forró. Prefiro suco a refrigerante. Costumo ser um pai para meus irmãos. Já dancei em um estádio lotado com 63 mil expectadores. Emocionei-me na primeira vez em que entrei em uma redação de jornal. Quebrei o braço quando tinha 7 anos porque pensava ser um ninja e andei em cima do muro com um saco na cabeça. Dou importância a detalhes e, às vezes, saio na rua e vejo tudo com outros olhos; faço literatura; escrevo em minha própria mente por alguns minutos; não coloco no papel. Quando estou em um shopping, gosto de sentar na praça de alimentação para prestar atenção no comportamento e nas características dos indivíduos com objetivo de imaginar como são em seus cotidianos. Sinto falta de uma cadela que doei quando meus pais precisaram mudar de cidade. Fiz aula de inglês apenas aos 18 anos. Adquiri minha independência financeira aos 20. Já me disseram que não amo porque não sinto ciúmes. Fico chateada porque as baterias de todos os celulares que tive sempre viciam. Apreciaria se minha mãe fosse menos passiva e, meu pai, menos negativo. Já bati na cara de um homem e me impressionei comigo mesma por isso. Sou gaúcha, mas não sou obsessiva por chimarrão. Aprecio unhas bem arrumadas, mas poucas vezes estou com as minhas pintadas. Já tentei tocar violão, mas meus dedos doeram e eu desisti da ideia. Já deixei muitos livros lidos pela metade. Não separo a matemática da literatura, nem a filosofia da química, nem a geografia da religião. Gosto de compartilhar bons textos e vídeos interessantes com meu namorado. Fiz coleção de cartões telefônicos quando pequena. Já fui ao show de um ídolo e pensei que iria casar com ele. Quero aprender mais sobre o cérebro, suas funções e mistérios. Sinto falta de marchar, de usar uniforme e de prestar continência. Tenho esperança no ser humano e considero que sempre podemos ser melhores. Me irrito com erros de português, portanto, se cometi algum neste texto, peço desculpas.

Bem-vindos!

Minha foto
Um conjunto de antíteses e uma mente apaixonada, que pulsam juntos em forma de sonhos. Graduanda em Psicologia e ex-estudante de Jornalismo na UFRGS.

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