sexta-feira, junho 4
Arcano: em alguns casos é o tempero; noutros, a destruição.
Depois de trabalhar em loja, já não vejo mistério no comércio. Observo produtos em vitrines e não me deslumbro com eles, há o domínio - sei como tudo funciona, conheço os preços, as qualidades, as origens.
Não é diferente do que ocorre com você. Ao aprender a coreografia de alguma música que admira, provavelmente você não se surpreenderá nas próximas vezes em que assisti-la.Talvez por algum tempo você teve curiosidade sobre o modo como certa pessoa se portava, se vestia ou falava, porém, depois de terem criado um vínculo, compreendeu o porquê de suas atitudes e o mistério cessou. Exemplos não faltam, pense em lugares que você apenas via por fotos e que, depois de conhecê-los, passou a ter uma avaliação diferenciada sobre os locais.
Há alguns dias, assisti à apresentação de um mágico requisitado em minha cidade, os presentes admiravam os truques e se questionavam a respeito de como eles eram possíveis; eu, no entanto, permanecia inquieta à procura de algo que me impressionasse. Por conhecer alguns truques e analisar o evento de forma crítica, sai do local bastante surpresa, não pelas mágicas, mas pelo domínio e poder do desconhecido.
Participe desta brincadeira:
Costumo fazê-la com amigos e geralmente o pessoal fica curioso sobre seu segredo, veja como é:
1º: Pense em um número;
2º: Multiplique ele por 2;
3º: Some com 8;
4º: Divida por 2 e
5º: Subtraia o número que você pensou.
O resultado não foi o número 4(quatro)? Conforme o resultado que desejo, proponho outras contas, é apenas uma simples questão matemática, aprendi a fazê-lo observando outras pessoas, então já não há nada demais.
Tudo o que não conhecemos nos surpreende. Surpreende e engana. É desta maneira que instituições, empresas e nações funcionam, por meio da ignorância a que seus subordinados estão sujeitos. O marketing é recheado desta façanha, muitas vezes divulga informações não verídicas para que seus produtos sejam vendidos. Em um programa de rádio, o locutor se comunicava com um sujeito que supostamente lhe fazia uma ligação. Por meio da conversa, era explícito que cada palavra era parte de uma combinação para divulgação de um show. No outro dia, todos ingressos estavam vendidos.
Não saber é prazeroso muitas vezes, gera alegria ao assistirmos a mágicas, ao comprarmos uma roupa, ao encontrarmos um artista e, nesse sentido, é interessante que não tenhamos o domínio, porque a vida tem um gosto especial. Por outro lado, quando há pessoas que se aproveitam de nossa ignorância, é preciso auto-conhecimento, avaliação. Talvez você não perceba, mas já deve ter perdido muito pela manipulação que pessoas têm sobre sua vida. É o arcano que engana e surpreende, esteja atento!
Um ótimo final de semana a todos, até mais.
segunda-feira, maio 24
Tudo estava diferente.
Mês de maio, sábado sereno e Ronaldo se regozijava com a melancolia da noite. Diferente dos outros finais de semana, não havia sons em sua rua, parecia que todos haviam se desintegrado. Para ele, um dia perfeito.
Sem desconfianças, lambeu os beiços e sugou com força o aroma do café que descia pela faringe, esôfago, estôma... Que delícia! - Dizia aquele homem minutos antes da meia noite.
Não, não era dia para ler Kant ou pesquisar sobre os últimos planos de seu roteirista preferido, era preciso fazer algo diferente. Lembrou-se da época em que vivia sem preocupações e se deixava tocar pelo primeiro amor, deparou-se consigo, viu que não era mais o mesmo. Agora seus interesses eram outros, suas alegrias, raras, seus desejos... ah, os desejos! Sim, era o dia convicto para pensar neles.
Correu até a gaveta mais próxima de sua escrivaninha, lá estavam elas, as agendas de 5, 10, 15 anos atrás. Por descuido,deixou cair alguns papéis no chão. Minutos depois, viu-se em meio a uma praça de mãos dadas com ela, sua antiga namorada. Era o reflexo da foto que segurava em suas mãos. Ronaldo observou com atenção a foto e riu, ele sentiu o peso do passado sobre si, mas percebeu o quanto era interessante a vida que levava depois daquele relacionamento. Percebeu que, naquela época, jamais se imaginou de terno, defendendo causas, às vezes de mera insignificância mas que, dentro de um conjunto, formavam o único prazer de sua vida. Folheou algumas folhas, "21 de outubro de 2000 - hoje almocei com antigos amigos que vieram do RJ, companheiros no clube de pocker quanto tínhamos nossos 17anos. O encontro não foi como esperado. George, o companheiro mais velho de nossa turma, já não tinha a mesma coragem que me fascinava durante aqueles anos, mas se demonstrou um bom pai falando sobre como cuidara de seu filho, o pequeno Igor. Do mais, me entristeço por perder a lembrança que minha mãe havia me entregado antes de falecer, devo ter perdido ao pagar a conta, descuido como esse não tem perdão.". Leu mais algumas páginas e caiu sentado na poltrona de braços largos. Sim, estava se esquecendo de muito do que amava.
-Triiimm, triim, triiimmm. Ronaldo enxuga os olhos, descansa um pouco na cama e vê-se confuso ao lembrar o sonho, pois nunca se sentia bem ao recordar que não falara com sua mãe durante os últimos cinco anos anteriores à sua morte e, sem dúvida alguma, corre à escrivaninha.Mexe e remexe em alguns documentos - artigo 113, item b; lista de compras; notas das últimas camisas compradas; até que ela, a agenda vista naquela noite, é encontrada. Procura logo a página do dia 21/10/00 e lá encontra um envelope, um envelope em branco.
Retira de lá um papel pardo com as seguintes palavras:
Ronaldo, nunca entendi ao certo essa distância. Pode ser que não nos falemos, mas desde que soube que estava em meu ventre, decidi ficar junto de ti em todo o tempo. Sei que não estou bem, em alguns dias não estarei por aqui, mas peço a Deus ou a alguma força do bem que te toque em dia oportuno, que te devolva o encanto. Hoje, sem que soubesses, vim à tua casa e deixei esta carta em uma agenda velha que encontrei, oro para que, em uma noite serena, assim como aquelas em que conversávamos quando tu era pequeno, tu possas encontrá-la e se lembrar do quanto te amo. Ronaldo, receba isso como um amuleto que te traga boas lembranças, que não te permita esquecer os amores da juventude, os amigos; um amuleto que não te prenda ao trabalho, mas que te dê tempo para desfrutar do que tu sempre desejou, não te esquece daquela viagem com que tu sempre sonhou, não te esquece de que sou tua mãe, de que sempre estarei contigo.
Meu último, mas sincero abraço.
Maria Isabel
As lágrimas correm, ele pensa na ex-namorada do sonho, pensa em ligar para ela, mas hesita. Relê algumas palavras de sua mãe e diz a si mesmo que não pode mais perder tempo. Disca o número de que nunca se esqueceu, ela atende ...
Por Laura Marzullo, Porto Alegre/ RS
Sem desconfianças, lambeu os beiços e sugou com força o aroma do café que descia pela faringe, esôfago, estôma... Que delícia! - Dizia aquele homem minutos antes da meia noite.
Não, não era dia para ler Kant ou pesquisar sobre os últimos planos de seu roteirista preferido, era preciso fazer algo diferente. Lembrou-se da época em que vivia sem preocupações e se deixava tocar pelo primeiro amor, deparou-se consigo, viu que não era mais o mesmo. Agora seus interesses eram outros, suas alegrias, raras, seus desejos... ah, os desejos! Sim, era o dia convicto para pensar neles.

-Triiimm, triim, triiimmm. Ronaldo enxuga os olhos, descansa um pouco na cama e vê-se confuso ao lembrar o sonho, pois nunca se sentia bem ao recordar que não falara com sua mãe durante os últimos cinco anos anteriores à sua morte e, sem dúvida alguma, corre à escrivaninha.Mexe e remexe em alguns documentos - artigo 113, item b; lista de compras; notas das últimas camisas compradas; até que ela, a agenda vista naquela noite, é encontrada. Procura logo a página do dia 21/10/00 e lá encontra um envelope, um envelope em branco.
Retira de lá um papel pardo com as seguintes palavras:
Ronaldo, nunca entendi ao certo essa distância. Pode ser que não nos falemos, mas desde que soube que estava em meu ventre, decidi ficar junto de ti em todo o tempo. Sei que não estou bem, em alguns dias não estarei por aqui, mas peço a Deus ou a alguma força do bem que te toque em dia oportuno, que te devolva o encanto. Hoje, sem que soubesses, vim à tua casa e deixei esta carta em uma agenda velha que encontrei, oro para que, em uma noite serena, assim como aquelas em que conversávamos quando tu era pequeno, tu possas encontrá-la e se lembrar do quanto te amo. Ronaldo, receba isso como um amuleto que te traga boas lembranças, que não te permita esquecer os amores da juventude, os amigos; um amuleto que não te prenda ao trabalho, mas que te dê tempo para desfrutar do que tu sempre desejou, não te esquece daquela viagem com que tu sempre sonhou, não te esquece de que sou tua mãe, de que sempre estarei contigo.
Meu último, mas sincero abraço.
Maria Isabel
As lágrimas correm, ele pensa na ex-namorada do sonho, pensa em ligar para ela, mas hesita. Relê algumas palavras de sua mãe e diz a si mesmo que não pode mais perder tempo. Disca o número de que nunca se esqueceu, ela atende ...
Por Laura Marzullo, Porto Alegre/ RS
domingo, maio 9
Neste dia, a Homenagem é Dela!
Nos tempos de quinta-série (nossa, faz tempo, crise da velhice nesse momento) , haveria apresentações literárias no colégio com presenças de Walmor e Roberto Santos, escritores porto-alegrenses. Imagine, estudantes de Alegrete aguardando pela visita do pessoal da capital, foi um vira-e-mexe no colégio -principalmente pela expectativa das meninas em conhecer O Robeeerto, o escritor, o "galãnzote".
Então foi a vez de os alunos também atuarem. Professores deram oportunidade para que pinturas fossem expostas, livros divulgados, poemas declamados e lá estava eu metida no bolo. Mamãe, ao saber do evento, foi a primeira a propor que eu lesse um texto de sua autoria, um poema que, ao passar pelo julgamento de nossos mestres, foi escolhido para ser declamado aos autores e a quem estivesse presente.
Durante todo esse tempo, aquelas palavras ficaram registradas em minha memória e hoje me lembro com alegria desse dia não só pela euforia existente, mas por saber que, de alguma forma, representei minha amada.
Eis o poema:
Então foi a vez de os alunos também atuarem. Professores deram oportunidade para que pinturas fossem expostas, livros divulgados, poemas declamados e lá estava eu metida no bolo. Mamãe, ao saber do evento, foi a primeira a propor que eu lesse um texto de sua autoria, um poema que, ao passar pelo julgamento de nossos mestres, foi escolhido para ser declamado aos autores e a quem estivesse presente.
Durante todo esse tempo, aquelas palavras ficaram registradas em minha memória e hoje me lembro com alegria desse dia não só pela euforia existente, mas por saber que, de alguma forma, representei minha amada.
Eis o poema:
Sou mestre dos mestres;Sou de porte médio, pequeno e grande;Sou imenso ou talvez penso que seja imenso;Não sei, eu me vejo assim;O que procuram em mim?Respostas, perguntas...Às vezes questionam-me;Não era o que esperavam;Ouço críticas boas e ruins;Sempre foi assim;Desde o começo;Mereço? Talvez.Críticas construtivas que me façam ficar melhor;Pior não quero ficar;Porque morreria de dor;Ninguém iria querer folhar-me, olhar-me, amar-me...Para os pequenos quero ser ilustrado;E para os maiores quero ser disputado;E quando mais disputado melhor!Sou grande, sou imensoSei que mereço ser assim;Sem mim, o mundo seria muito pequeno em conhecimento;Sou o livro!
Hoje aguardo o início de uma carreira jornalística. Embora alguns não entendam o porquê disso, eu o sei: foi espelho, admiração e amor pelas palavras, pelas expressões Dela, de minha mãe.
Parabéns a todas que são mães, àquelas que nos trouxeram a esse mundo. Abraços
segunda-feira, abril 19
Ocupando lugar no espaço.
Ao observarmos outras culturas, surpreendemo-nos com alguns de seus costumes. Questionamos como é possível pessoas se relacionarem de maneira diversificada, crerem em símbolos que para nós são de simples uso diário ou mesmo se alimentarem de animais ou de ervas que não degustamos. Dentre todos esses itens, um que instiga a todos é a morte e de que forma ela é vista em cada local.
Há inúmeras crenças sobre o que ocorre ou não depois que deixamos esta Terra. Fato é, em certo momento, todos nos vemos em reflexão sobre tal acontecimento, que mexe com nossas emoções, nosso inconsciente, nossas crenças, lembranças.
Embora julguemos estranhas muitas das atitudes de outras sociedades, por algumas fazerem parte de nosso dia a dia, não conseguimos enxergar aquelas que também possuem "um quê" de anormais em nosso meio. Você já parou pra pensar sobre porque costumamos enterrar nossos entes queridos?
Hindus e gregos, por exemplo, procuravam incinerar seus mortos, mesmo que por diferentes motivos _ já que o primeiro marca a destruição integral da existência, para se ver livre dos pecados, enquanto o povo grego preparava-os para outra condição de existência, para a perpetuação de uma "vida diferente" . Ocidentais, por outro lado, procuram enterrar os mortos; costume que provém de um culto à carne e às características dos indivíduos, que seriam guardadas por meio de seus corpos. De geração em geração, o costume é passado e nenhum de nós se opõem a tal atitude.
De alguma forma, isto me instiga e me faz pensar de forma diferente. Observo problemas na existência de cemitérios,cujo único intuito é ocupar lugar no espaço
Sei que muitos hão de me criticar, me acharão insensível, contudo, sinceramente, acredito que sou mais sensível por pensar desta maneira. Enxergo o que há de verdadeiro nas pessoas, aquilo que elas amam, prezam, cuidam e tudo isso não se reflete em suas estruturas corporais, mas no modo como se portam, como falam, como agem, como vivem. Vejo sensibilidade no pensar, no questionar alguns de nossos costumes que só existem porque ainda não estamos abertos à mudança, ao avanço, a formas diferentes de se observar.
Trato de um exemplo realmente instigante, mas há inúmeros tratados por nós com o mesmo egoísmo. Creio que, em nossa vida, há mais restos guardados e amontoados de maneira desastrosas do que a vida em sua essência, que procura o simples prazer, que valoriza o peculiar, o diferencial, o marcante. É simplismente penoso que cheguemos a este ponto.
Assim inicio a semana e deixo meus sinceros abraços. Até mais.
sexta-feira, abril 9
Meu Chuavinismo pelo BBB
Já faz mais de uma semana que o programa acabou e aqui estamos nós, não-milionários e não-famosos, apenas com contas de telefone para pagar. Se você quer eliminar o BBB-fulano, ligue "030 ..." . Qual é mesmo o número? Você sabe melhor do que eu.
A alienação é algo mágico. Pessoas se propõem a admirar a falácia de um programa de manipulação de massas, enquanto deveriam fazer de suas vidas algo que instigassem os outros a observarem-as por 24h, afinal, a inveja é sinal de que há algo concreto para que se deseje. Como isso não ocorre, o melhor é nos iludirmos assistindo ao programa e, a cada dia, nos tornando mais burros. Burros, o que é isso, Laura? Ah, deixo para vocês um texto escrito por David Coimbra, ele simplesmente arrasou:
Saiba como ficar burro sem sair da sala.
Se você foi um dos capazes de chegar até este ponto da postagem, pense cá comigo por um instante. Você já se deu por conta do quanto somos capazes de criticar inúmeros dos problemas de nosso país, apesar de não dedicarmos nem mesmo o tempo de um episódio de BBB para pesquisar a respeito disso? Embora minha linguagem seja exacerbada, não sou contra o fato de você ir a bailes de carnaval, assistir ao BBB ou a novelas, desde que esteja consciente sobre as más e boas consequências que isso lhe causa. Meu objetivo aqui não é decidir o que você, meu amigo ou tio assiste, minha proposição é: imagine-se dedicando semelhante tempo dos programas à política, por exemplo. Pode ser uma suposição com tendência falaciosa, porém tenho quase certeza de que não haveria tanta alienação no meio de nossa população e, consequentemente, nossa realidade teria um alicerce muito diferente da atual para fundamentar suas ideias e agir na verdadeira democracia que hoje é apenas um conceito legislativo, jamais uma realidade do brasileiro.
Vá aonde quiser, assista ao que lhe agrada, mas, por favor, não exija , não critique o que você não conhece, tenha argumentos, saiba o que está dizendo e, então, tenha o direito de julgar. Desta forma, todos darão maior atenção a suas palavras e, sim, poderemos tratar sobre assuntos que sejam do conhecimento de toda a população assim como nosso querido BBB e, ao mesmo tempo, nos levem ao debate, ao raciocínio, à mudança. Luto pelo dia em que o progresso gere a mesma polêmica, instigue e produza o mesmo interesse que existe pelos programas de entretenimento. Não é utopia, é vontade de enxergar.
Um ótimo final de semana para todos.
Laura M.S.
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Bem-vindos!

- Laura Marzullo
- Um conjunto de antíteses e uma mente apaixonada, que pulsam juntos em forma de sonhos. Graduanda em Psicologia e ex-estudante de Jornalismo na UFRGS.
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