terça-feira, agosto 17

Deficientes somos nós.

   Já era tarde quando os pais de Jonathan receberam o resultado do Teste da Orelinha. Mariana conversava com outras pessoas que estavam na sala de espera, quando percebeu que seu esposo agia de maneira incomum, tendo expressões de desgosto em sua face, até que veio a seu encontro e deixou o papel em suas mãos. Ela leu, releu. O filho deles era Surdo. Os dois seguraram as mãos um do outro e ficaram por algum tempo imóveis, até que foram à procura do médico.
   O casal jamais havia pensado naquela possibilidade. Sempre desejaram ter um filho e já faziam planos de como seria constituir uma família, ter os primeiros contatos com o bebê, levá-lo à escola... Sentados na sala, o doutor explicou que havia realmente um problema na criança, mas que já existia um tratamento dirigido a quem nascia com aquela deficiência, entregou um livro com maiores informações àqueles  pais para que, assim que possível, iniciassem o processo.
   De início, foi complicado, os pais se viram deparados com uma situação que nunca tinha vindo a suas mentes, mas aprenderam a lidar com a situação e desejaram agir de toda a maneira possível para que seu filho pudesse ouvir e, assim, se comunicar com todos.
   Lucas já estava com 5 anos quando seus pais descobriram que para ele o tratamento não seria possível, pois o aparelho indicado não era compatível com o glóbulo de sua orelha. Foi momento de muita dor para aquela família, foram cinco anos buscando soluções, buscando formas de fazer aquela criança escutar assim como as outras. Lucas precisou frequentar um instituto que acompanhava pessoas com a mesma diferença que ele, e assim passou a ter contato com outras crianças que  sofreram com a mesma rejeição, mas aprendeu que seria possível se comunicar com todos, passou a ter contato com a língua dos sinais e, com o tempo, aceitou sua diferença. 
   No instituto, encontrou uma amiga, Rebeca, que diferente dele, tinha as condições necessárias para usar o equipamento auditivo, mas teve muitos problemas em razão disto. Seus pais eram de família humilde e o as pilhas do aparelho eram no valor de R$4.000,00. De início, ela recebeu o aparelho pelo SUS, porém, caso houvesse algum dano, seus pais precisariam adquirir outro sem auxílio financeiro do governo.
 Por isso, eles sempre a impediram de brincar, de participar de atividades mais interativas ou tomar alguma atitude que de alguma forma pudesse danificar o aparelho.


   Lucas e Rebeca refletem problemas de uma parcela considerável das famílias de nossa sociedade. Foram citados dois exemplos a respeito do problemas que crianças como eles sofrem pela diferença que possuem, sem citar o preconceito que há em relação aos Surdos seja pela falta de informação a respeito deles, seja pela rejeição que se inicia desde que são crianças na escola ou na família. Muitos deles, por serem  excluídos das brincadeiras desde pequenos, acabam por não desenvolver a voz (sim, eles a possuem, apenas não a usam por serem criticados toda vez em que procuram se comunicar), acabam por procurar fazer leitura labial (sendo que é um método limitado, já que não conhecem todas as palavras que são ditas pelos falantes) e procuram usar aparelhos com intuito de ouvir ( o aparelho nunca chegará ao ponto de funcionar como nossa audição, de modo que ouvirão sons em frequência e qualidade muito baixas). Os que optam pela tentativa de ouvir, acabam se frustrando ao não alcançarem essa função e passam a se auto-excluírem, o que provoca um sofrimento contínuo, semelhante a de um negro, de um homossexual ou de qualquer outra pessoa que não é respeitada pela sociedade e acaba por ter uma vida limitada em razão disso.
   A história de inserção dos Surdos é longa. Já foram usados métodos com inserção de sanguessugas nos seus ouvidos, século XV ; foram criados manicômios para "limpá-los" da sociedade na época da Rev.Francesa; além de muitas outras situações por que passaram devido à ignorância e falta de atenção que temos em relação a esse grupo social.
   Hoje o termo correto ao fazermos referência a eles é o de "Surdo", e não de "surdo-mudo" ou de "deficientes auditivos". Houve movimentos pela luta da aceitação deles não como deficientes, não como pessoas que possuem uma falta, mas como pessoas que são diferentes e por isso devem também ser aceitas e respeitadas. Eles possuem uma linguagem ( com todos os 6 itens necessários para que esse conceito possa ser usado) portanto produzem cultura e é possível também aprender com todo conhecimento que eles produzem.
   Sempre que temos contato com pessoas diferentes de nós, acabamos por adquirir algo novo, algo que nos preenche como pessoas e, com certeza, conviver com Surdos também nos dará esta oportunidade. Para que isso ocorra, necessitamos mudar a visão que sempre tivemos em relação a eles como deficientes e perceber que, mesmo que se comuniquem de uma maneira que não é como a nossa, também são indivíduos capazes de aprender e de ensinar. Afinal, quem disse que a maior parcela da sociedade é que está correta? E quem disse que há o termo "correto"? Que não nos baseamos em termos de certo ou de errado, mas que saibamos ter o olhar limpo ao conhecer indivíduos que passaram por experientes que nós não tínhamos condições para alcançar.
segunda-feira, agosto 9

Olhos dentro da Mente

   Você já se deu por conta de que nossa interpretação sobre o que vemos, lemos ou observamos depende da maneira como nos portamos diante dessas situações?
   Para melhor entender, se lembra daquela aula de literatura em que seu professor comentou que a reflexão em relação aos poemas não é limitada, mas depende das situações por que cada um de nós passa: momentos de dor, de crescimento, de paixão...
   Pensando com cautela, além de todas essas influências que nos cercam ou já nos cercaram em determinado momento, nossa capacidade de entender o que nos é exposto se relaciona ainda mais com a atenção que damos ao assunto e de que maneira nos libertamos a apenas sentir o que está sendo dito como se fosse a primeira informação que adquirimos na vida, como se não houvesse nenhum outro pensamento que nos impedisse de receber esta informação em sua forma mais pura, simples e única.
   Parei para pensar a respeito deste assunto há cerca de um mês, ao ver que os comentários em meu blog eram contrários àquilo que havia escrito. Aliás, ao invés de as pessoas sugarem o texto, elas se prediam a uma única informação colocada nele, uma mera informação que tinha o único intuito de exemplificar o tema. No texto, queria comentar sobre como ficamos quando algo inusitado acontece, quando uma notícia nos tira da situação natural. Para isso, citei a desclassificação do Brasil na Copa, já que era uma notícia que havia atingido a todos e então seria mais simples de entenderem o que tinha por intuito. Me enganei.
   Os comentários foram todos sobre a Copa, sobre a seleção, sobre os erros e acertos de Dunga. Pensei: " será que não soube me expressar?" . Reli o texto e percebi que não, que havia escrito realmente o que desejava, mas que o olhar das pessoas não era limpo no momento da leitura, elas passavam os olhos pelo texto já carregadas de informações, sem se permitir receber uma nova visão naquele momento.
   O curioso é que fazemos isso em todo o momento! Há influência de quem nos cerca, do que já fomos, das críticas, da imprensa e tudo isso não nos permite viver na essência, no desejo de enxergar o novo como ele realmente ele é, e não da maneira como ouvimos falar nele.
   Parece-nos difícil deixar todo conhecimento de lado para adquirir um novo e realmente é uma estratégia complicada, mas, geralmente, quando queremos nos superar e alcançar algo além do que já temos por costume, precisamos aprender a também agir de uma maneira que não vá de encontro ao que está limitado a nossa própria capacidade. O arriscar, o tentar diferente nos trazem novas oportunidades e maneiras diferenciadas de relacionamento para com o viver e para com o pensar. Resta-nos tomar um gole de coragem e aceitar esta nova oportunidade. Depois de decididos, esperemos um pouco e avaliemos o resultado. Com certeza, seremos surpreendidos.
Olhos diferentes dos da face, olhos da mente.

Bem-vindos!

Minha foto
Um conjunto de antíteses e uma mente apaixonada, que pulsam juntos em forma de sonhos. Graduanda em Psicologia e ex-estudante de Jornalismo na UFRGS.

Eles aprovam: